quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

De medo da morte


Certo dia, ao
sair
     do banho

não sei, o vento de fora
     talvez
ou algum pensamento
     mais sombrio

arrepiou meu corpo e me deu
     uma sensação
          de morte

e tive
     medo

ao imaginar
como seria
o sentir
da ruptura do
fio de prata

e o ser arrebatado
     -pra onde?-

e todas aquelas coisas que nós
          mortais
sabedores de serem
          mortais
teimamos ainda
              em temer.




domingo, 29 de novembro de 2015

Tudo se desencontra


Tudo se desencontra.

Repare:

na pressa
o sinal fechado

na fome
restaurante fechado

no amor
o coração fechado.

E lá vai você

de frustração
     a
          frustração

aberto, o quê?

o túmulo

ah sim

algo aberto

há de ter.



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Aquelas músicas


Aquelas músicas
ouvir,
     por quê?

se vem a dor como monstro enorme

a lembrança e suas irmãs

     terríveis

cuspidoras de fogo

só lamúria masoquismo autoindulgência
espinhos cravos lágrimas
frustração choro pesar
suicídio decepção velas

(e o piso do chão, tão gelado)

en
     curvado
en
     velhecido

você ouvindo
por quê?,

aquelas músicas.




sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Ainda que na fluidez da imaginação de sonhos vãos


Voltar ali
ainda que na fluidez
da imaginação de sonhos vãos

ainda que no sentir calado
de corações desavisados

ainda que no rodopiar de anseios
que dão
em nada

voltar ali
ainda que assim

já era noite
carros e pessoas nas calçadas
nós de braços dados

voltar ali
no desejo não consumado

é tudo turbilhão tempestade
e tormenta

ali, assim,
voltar ali

sonho vãos
que transcorrem
fluidos


sábado, 26 de setembro de 2015

Só temos isso quando raia o dia


Se ela não quer
se não ouvem
enxergam ou sentem
o que resta
claro
é música e cerveja
poesia
decerto
e, no fim
só temos isso
quando raia o dia.

domingo, 13 de setembro de 2015

O vento é a espada de Ali


Dos manuscritos de Abu Tawhid
circa 493- 596 Anno Hegirae  

O vento
é a espada de Ali:

é profundo,
o corte

e como dor,
todavia

é serenidade
e paz

o vermelho
que pensamos ser sangue

é a cor do véu dela
ondulante
ao vento

de corte profundo

como dor,
todavia

como a espada
de Ali.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ela vem insidiosa


ela vem insidiosa
basta pouco:
chuva
ou só um tempo mais nublado
prédios antigos
ruas de árvores
vento batendo

daí, vamos ver
ela já aqui do lado
acariciando
em dedos transparentes de vidro
o afago doce
da melancolia



domingo, 30 de agosto de 2015

Natureza ela também


a poesia continua
iria parar?

mas como
se tempestades furacões
coriscos tormentas raios
granizo
raios gama e x
e tudo isso que é natureza
nada pára

poesia
pararia
ela que é isso
natureza
ela também?




sábado, 4 de julho de 2015

Cavaleiro andante em armadura rota


do livro dos sonhos

cavaleiro andante em armadura rota
a pé, sem corcel
em meio ao bosque em auxílio à dama

*

embarcação vagarosa
rumo a algo
oscilação de noites e dias
pelo oceano adentro
chegar?
qual porto?

*

franja de areia
aos pés dos prédios
é noite, olhamos
do alto
caminhadas desatentas.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

De relance assim olhou


E olhou assim de relance
como o raio que ilumina,
por um segundo
a cidade

e perguntamos, foi raio
ou alguém acendeu a luz?

de relance assim olhou
em frente
azul emoldurado pelo
lápis preto
mecha loira pela testa

tudo isso por um segundo
de relance, o olhar
que iluminou a cidade.



quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

E todo dia é dia dele


naquele dia sonhei
     com gêmeos

mas foi um sonho curioso
     porque
     um deles
          (o que se foi)

estava mais velho

e eu me perguntava
     — como é possível
     o gêmeo ser mais
     velho

não tive resposta

mas ao longo do dia

pensei se o tempo não passava mais rápido
     lá
          entre anjos e
               serafins

e se esse não era o motivo dele parecer mais velho

e, à noite, ao contar o sonho,
me disseram que sonhei assim
porque era
     dia de finados

mas como poderia ser dia de finados
se meu filho estará sempre
     (para mim)
          vivo

e todo dia
     é dia dele?


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Às vezes o diabo também


Dos manuscritos de Abu Tawhid
circa 493- 596 Anno Hegirae  

não é só o Amado
às vezes o diabo
também nos prova a têmpera

tentações de dois lados
nos acometem
uma, do céu
nos levando à ruína
outra, do inferno
nos levando à glória

em meio a ambas
nossa alma, essa
cobiçada

perdida

vagueia entre os chamados.




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